
A exemplo de como sua ideologia pode ser aplicada a um fato político recente, temos a invasão pelas Forças Armadas americanas ao Iraque, com a justificativa de depor o ditador Saddam Hussein e neutralizar possíveis ameaças de armas de destruição em massa que tal ditador possuía. Após a invasão, foi constatado não haverem tais armas e o ditador Hussein terminou deposto e executado. Em uma visão maquiavélica, tal invasão foi justificável, ainda que uma de suas justificativas tenha se provado infundada, uma vez que o discurso do governo iraquiano e algumas de suas ações fossem contrárias ao governo americano. Sendo também que o petróleo, essencial para a manutenção dos Estados Unidos como potência, tinha seu comércio dificultado pela política contrária adotada pelo Iraque, sendo este último detentor de grandes reservas de tal recurso. Dessa forma, qualquer ação por parte do governo americano é justificada pelo simples fato da manutenção do seu governo, terminando com qualquer ameaça, sendo que é melhor terminar com tal ameaça enquanto ela ainda é passível de controle, e não permitir um fortalecimento de tal ameaça em potencial “(...) sucede o mesmo aos assuntos do Estado: se aos males se conhece com antecedência, o que é concedido apenas aos homens prudentes, rapidamente se pode curá-los; mas se, por ignorados, aumentam a ponto de a todos se dar a conhecer, não terão, aqueles males, mais remédio(...)”, de forma a impor a estabilidade de sua posição, ainda que isso contrariasse a opinião de outros países com peso considerável e de órgãos supranacionais como a ONU.
O Estado americano depois de ter usado a força como meio legítimo de defender seus interesses e ter sido virtuoso em parte, já que conseguiu seu objetivo de depor o ditador. Por outro lado falha ao tentar impor o seu modo de governo ao Iraque. Maquiavel atribuiria esse fracasso ao fato de os Estados Unidos não terem levado em conta os três fatores fundamentais para conseguir manter territórios que antes eram regidos por leis próprias. “(...) a primeira, arruiná-los; a segunda, ir habitá-los pessoalmente; a terceira, deixá-los viver sob suas leis, mas auferindo tributos e criando ali dentro um governo oligárquico, que os mantenha fieis(...)” Outro fator que dificultou e tornou instável e onerosa a dominação americana do Iraque foi a resistência de antigos membros do governo de Saddam Hussein e de outros habitantes contrários a presença estrangeira em seu território. Além disso, a presença de um líder forte, que representaria os americanos e cativasse a população iraquiana, legitimando a influência de um país estrangeiro, também não foi feita, uma vez que a ocupação foi feita de modo hostil e a presença é predominantemente militar, e, portanto intimidante ao invés de cativante. Sob o terceiro aspecto, podemos claramente ver que os antigos modos de governar foram desrespeitados, sendo que a afirmativa para a presença dos EUA após a deposição e constatação da ausência de armas de destruição em massa, foi o estabelecimento da democracia no país, algo que antes não existia.
Assim os Estados Unidos não foi virtuoso, já que pelo exposto, não seguiu a risca um dos pensamentos de Maquiavel que se deve ser forte como um leão e esperto como uma raposa, para assim consolidar o seu poder.